O embaixador português, Francisco Alegre Duarte, destacou hoje a “presença firme e honrosa” das empresas portuguesas em Angola, mesmo em momentos difíceis, garantindo “contribuir para o seu fortalecimento” tendo em conta o “grande desígnio” da diversificação da economia angolana.
“Mesmo nos momentos difíceis, como tem acontecido com a recessão económica e no contexto de pandemia, as empresas portuguesas mantiveram sempre uma presença firme, honraram as suas obrigações, pagaram sempre os seus salários, mantiveram a maior parte dos empregos”, afirmou Francisco Alegre Duarte, em Luanda.
O diplomata que falava no final da visita que efectuou à Caetano Angola, empresa do grupo português Salvador Caetano, garantiu “contribuir para robustecer a presença dos [empresários portugueses] que estão em Angola e também trazer novas empresas”.
“Respondendo este grande desígnio do Governo e povo angolano que é a diversificação da economia para a criação de riqueza e emprego e vamos criar entre Portugal e Angola um espaço de prosperidade partilhada”, realçou.
Segundo Francisco Alegre Duarte, ouviu da Caetano Angola “uma confiança e um sentido estratégico da presença em Angola”, como tem ouvido da maior parte das empresas portugueses no país africano.
Sobre os desafios e preocupações apresentadas pela direcção da empresa, dedicada à importação e reparação de viaturas, o diplomata português referiu que na “globalidade” a Caetano Angola “está satisfeita” por operar no país.
“Na vida das empresas, das instituições e das pessoas não há situações perfeitas, todos temos dificuldades no dia-a-dia, claro que poderá haver dificuldades pontuais, mas o que eu ouvi no geral foi uma mensagem de confiança, satisfação e de optimismo em relação ao futuro”, afirmou.
Angola, do seu “ponto de vista, está condenada a crescer” e “Portugal, as empresas portuguesas e as empresas com participações cruzadas vão contribuir para este desígnio”, concluiu o embaixador português em Angola.
Caetano Angola facturou 24,5 milhões de euros
A Caetano Angola, empresa do grupo português Salvador Caetano, facturou 11 mil milhões de kwanzas (24,5 milhões de euros) em 2021 com a venda de cerca de 300 viaturas, revelou fonte oficial da empresa.
O administrador-delegado da Caetano Angola, Fernando Leite, disse que o volume global de arrecadação de receitas na empresa compreende também a venda de peças, da sua unidade de venda de máquinas e equipamentos.
Pelo menos 300 viaturas foram comercializadas pela empresa, representante da Ford, Volkswagen, Citroën, Peugeot e Chery, em 2021, um volume que a firma prevê alargar para 500 este ano, esperando igualmente facturar um montante acima dos 11 mil milhões de kwanzas.
A perspectiva do crescimento do volume de negócios decorre de duas novas marcas que estão a ser comercializadas pela empresa, em Angola, nomeadamente a marca chinesa Chery e a Renault Trucks, camiões pesados.
A importação e reparação de viaturas constituem o “core business” da empresa em Angola desde 1990.
Fernando Leite referiu que o mercado automóvel angolano, que compreende importadores oficiais, está em queda desde 2014, período em que valia 44.000 unidades.
Segundo o responsável, 2021 foi o primeiro ano da inversão da queda, tendo representado já 3.876 unidades, no quadro da Associação dos Concessionários de Equipamentos de Transporte Rodoviário e Outros (ACETRO).
“Depois há todo um mercado de importadores paralelos que não dominamos e nem sabemos, mas também é um mercado muito grande”, salientou.
Para Fernando Leite, o mercado paralelo de venda de viaturas em Angola constitui uma “concorrência desleal, que muitas vezes prejudica os membros da ACETRO”, por estas não terem estrutura para garantir o pós-venda aos clientes, o fornecimento de peças, “o que torna a viatura mais barata”.
Considerou que “alguns problemas burocráticos” ainda persistem em Angola, sobretudo no desembarque das mercadorias, “que criam embaraços aos clientes que aguardam pelas viaturas, que por vezes não se conseguem entregar com a rapidez desejada”.
O administrador-delegado da Caetano Angola enalteceu a apreciação do kwanza, admitindo que os preços dos seus produtos poderão baixar, “mas não de imediato”, apontando a “falta de financiamento da banca” como principal constrangimento para os clientes.
“O nosso principal constrangimento é o cliente não conseguir financiamento junto da banca para comprar o seu carro, temos clientes que querem muito os nossos carros, mas infelizmente não conseguem esse financiamento”, rematou o responsável.
Francisco Alegre Duarte, chegou a Luanda no passado dia 1 de Março e manifestou logo o desejo de “aprofundar” a relação especial entre os dois países, bem como apoio à diversificação da economia angolana. Nada de novo, como é regra.
Numa mensagem partilhada no site da Embaixada de Portugal em Angola, Francisco Alegre Duarte, que substitui Pedro Pessoa e Costa neste posto, declarou que vai trabalhar para aprofundar esta “relação especial entre dois países e povos amigos” que se reflecte numa cooperação que se estende a todos os domínios da acção governativa – do diálogo político – diplomático à saúde, educação, justiça, mobilidade, segurança e defesa, entre outras.
“A densa interligação económica que nos une – e que é estruturante para ambas as partes – resulta da profunda empatia em termos humanos, afectivos, linguísticos e culturais”, sublinhou o diplomata na mensagem.
Francisco Alegre Duarte destacou também que Angola continuará a contar com o apoio de Portugal, em particular, das empresas e da comunidade portuguesa e luso-angolana, para a diversificação da sua economia, “criando emprego, riqueza, parcerias e um espaço de prosperidade partilhada, com desenvolvimento e benefícios mútuos”.
Para os portugueses que vivem e trabalham em Angola, destacou a “força e a solidez da relação” entre os dois países como um resultado da soma dos contributos de todos, nos mais variados sectores.
Recorde-se que o saldo da balança comercial entre Portugal e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) quase duplicou no ano passado face a 2020, melhorando o resultado favorável para 1,3 mil milhões de euros.
De acordo com os dados compilados pelo Instituto Nacional de Estatística de Portugal, o saldo da balança comercial passou de 621 milhões de euros, em 2020, para 1.360 milhões de euros em 2021, essencialmente devido à quebras nas compras a Angola, o principal parceiro comercial de Portugal nos PALOP.
As compras de Portugal a Angola caíram 79,3% em 2021, passando de 389 milhões de euros, em 2020, para apenas 80,6 milhões de euros no ano passado.
Pelo contrário, as exportações para Angola aumentaram 9,4%, subindo de 870,3 milhões de euros, em 2020, para 952,1 milhões de euros no ano passado.
Em 11 de Fevereiro de 2022, o ministro da Indústria e Comércio de Angola, Victor Fernandes, disse que Portugal continua a ser um parceiro relevante, apesar da diminuição das trocas comerciais entre os dois países. Sim, tem razão. A relevância também se mede pelo índice bilateral de bajulação.
“Portugal continua a ser um ‘player’ relevante na troca comercial com Angola e não é só produtos alimentares, são máquinas, é principalmente serviços até. Portugal exporta muitos serviços para Angola, ao contrário Angola importa muitos serviços de Portugal. Houve uma diminuição, mas continua relevante”, referiu Victor Fernandes.
O governante falava no acto de lançamento do “CaféCIPRA”, uma iniciativa do Centro de Imprensa da Presidência da República de Angola, para um diálogo directo e aberto entre governantes angolanos e convidados.
Segundo o ministro, por força da alteração dos últimos anos, nomeadamente a pandemia de Covid-19 e o aumento da produção nacional, muitos dos produtos que serviram o sentido de importação via Portugal diminuíram a sua cadência exportadora.
Por sua vez, o ministro da Economia e Planeamento, Mário Caetano João, reiterou a parceria entre os dois países, frisando que Portugal aparece em segundo lugar na lista de importações.
“Nós de maneira nenhuma deixamos Portugal de lado, aliás, na importação Portugal é o segundo maior parceiro de Angola, depois de China”, disse o governante angolano, sublinhando que nos últimos 10 anos os dois países têm estado a disputar esta posição.
Mário Caetano João frisou que a China é o maior parceiro, quer nas importações quer nas exportações, domínio onde Portugal ocupa o sexto lugar.
“De maneira nenhuma deixamos Portugal de lado. Portugal de facto é um daqueles parceiros comerciais tradicionais, onde temos estado a averiguar exactamente essas duas componentes primordiais da diplomacia económica, que é investimentos e comércio”, disse.
O titular da pasta da Economia e Planeamento destacou que, com Portugal, o Governo angolano consegue fazer a parceria nestas duas vertentes, ao contrário do que acontece com outros países, nomeadamente os fronteiriços, onde só se incrementa o comércio e pouco investimento.
Folha 8 com Lusa